REPÚDIO AO PL 1904/2024: UM RETROCESSO INACEITÁVEL



É com profunda indignação e repúdio que me dirigi aos defensores e

apoiadores do Projeto de Lei 1904/2024, que propõe equiparar o aborto após

22 semanas de gestação ao crime de homicídio, mesmo nos casos mais

sensíveis e dolorosos, como nas gestações resultantes de estupro.

Este projeto representa não apenas um retrocesso nas conquistas dos direitos

reprodutivos das mulheres, mas também uma afronta à dignidade humana e à

compaixão necessária para lidar com situações extremamente complexas e

traumáticas.

Ao tentar impor penalidades severas e desumanas às mulheres que enfrentam

uma gravidez resultante de estupro, os defensores deste projeto ignoram

completamente a realidade dolorosa vivida por essas vítimas. Negar o direito

ao aborto nessas circunstâncias é perpetuar o sofrimento, a violência e a

revitimização das mulheres, transformando o Estado em cúmplice de um

sistema que desampara e submete à dor aquelas que mais necessitam de

apoio.

É fundamental ressaltar que o direito ao aborto seguro e legal é um direito

humano básico reconhecido internacionalmente, e retroceder nesse aspecto é

uma afronta aos avanços civilizatórios alcançados na luta pelos direitos das

mulheres. Restringir o acesso ao aborto é uma forma de violência

institucionalizada contra as mulheres, especialmente as mais vulneráveis.

Necessário enfatizar que Relatório Anual Socioeconômico da

Mulher (Raseam), conforme o Censo Populacional de 2022, abordou que a

cada 8 minutos uma mulher é estuprada no país, e dados ainda mais

alarmantes são que 54,5 dessas mulheres são mulheres negras 1 .

Portanto, repudio veementemente o PL 1904/2024 e qualquer iniciativa que

busque limitar o acesso das mulheres ao aborto seguro e legal.


Este é o momento de resistir, de lutar pela justiça reprodutiva e pela autonomia

das mulheres sobre seus próprios corpos. Não podemos permitir que o

retrocesso e a crueldade se imponham sobre o direito à vida digna e à

integridade física e emocional das mulheres.



Leandro Soares
Advogado e colaborador 
Portal Frente Negra Online